quarta-feira, 25 de junho de 2014

Tempestades

É que a vida as vezes dói
Quebra cada osso do nosso corpo
Fica impossível respirar.
Dentro a alma perde o sossego
Fora o olho chora
Os passos em descompasso,
E seguimos em meio a tempestade
É que a vida as vezes dói,
Como dói agora.
Fabiano Brito

Lembranças

Lá fora a vida segue,
E vai levando nossas lembranças,
Apagando a nossa historia.
Como uma folha outonal
Flutua no ar pequenos restos
E gestos,
Que minha memoria teima,
Guardar em segredo.
E vai ficando em mim esse medo
Que partas enfim de mim
Para a morada das coisas inatingíveis
No campo das coisas abstratas
Onde apenas os nossos sonhos podem chegar.
Fabiano Brito

Pede

Pede,
Pede para eu te esquecer
Quem sabe assim,
Mato as lembranças todas
O gosto do teu beijo,
O calor do teu abraço,
A gente fazendo amor...
Pede para esquecer
Para não olhar para trás,
Fala que é melhor assim
Eu sem você, você sem mim
Que nossa estrada chegou ao fim.
Pede para esquecer,
Olha nos meus olhos
E diz que essa saudade um dia passa,
Que quando menos esperar, nem vou mais lembrar.
Pede,
Para esquecer de te lembrar.
Fabiano Brito

Rosa

Na ponta de um galho, no meio do meu jardim
Uma rosa espera ser colhida
Nas conchas de tuas mãos.
Como tantas que te dei,
Sonha 
Também ser dadiva
Do amor que ainda guardo.
Fabiano Brito

O que dói

O que dói não é o tapa
Mas saber a mão de quem o desfere
O que fere não é a lamina do punhal que corta
Mas saber a mão que o empunha
O que condena não é a maldição dita
É saber a boca que a profere
O que machuca não é a espada cortando o pescoço
É saber quem declarou a guerra
O que causa a dor não é o ódio
E saber que dentro de mim
Sempre foi amor.
Fabiano Brito

Hecate

A mão que segura a navalha em meu pescoço
Aguarda o momento exato
O instante preciso,
Para deslizar a lamina.
Diante dos meus olhos 
Uma senda de sombra se abre
E vai engolindo toda a luz a minha volta.
O meu sangue pulsa veloz nas coronárias,
Em pouco tempo o vaticínio de Hecate
"Morrerás sob a lamina fria,
Sobre a mesa dos sacrifícios
Teu corpo estendido,
O teu sangue encherá a maldita taça".
Fabiano Brito

Tem momentos que nossos olhos só vêem cinza
E nossas mãos só tocam essa fuligem escura.
Perdemos a visão azul do firmamento
Na abobada celeste apenas um breu
Que se abre em um leque infinito.
Pequenas mortes dentro de nossas vidas
O sonho que se perde
A esperança que se esvai
As verdades que nos negam.
E vamos tempo a fora
Entre tempestades e bonanças
Entre o amargo e o doce.
Até que partimos, sendo o que sempre fomos
Pó.
Fabiano Brito

Lua

A lua varando o céu
Em algum lugar há de te encontrar
Pudesse ela te dizer
Dessa saudade que sinto de você
Que feito lua no firmamento
Vai varando o meu peito.
Fabiano Brito

Diário de um louco - XXXII Devaneio

Diário de um louco - XXXII Devaneio
Olho da janela o mundo lá fora
No céu uma lua branca me olha fixamente.
Dentro de mim o negrume do firmamento 
Vai tomando forma.
Quem me dera a luz, a prata, desse luar
Que a minha volta careço claridade.
A maldade me ronda
Mata minhas verdades,
Destrói o jardim a minha volta.
Silencio: Todo eu sou dor
Uma tristeza atravessa o meu quarto.
Um cinzeiro cheio
Vai espalhando cinzas no ar.
O que machuca não é a navalha em minha carne
O que me torna fraco não é o sangue que derramo
É saber que é a tua mão
Que imprime força
Que arrasta a lamina
Que corta a minha carne
Que derrama o meu sangue.
Guardem segredo, não contem
Mas lá no alto, no fim de todas as galáxias
Dentro de uma pequena estrela brilhante
Esta guardado um tempo
Quando toda a maldade de agora
Ainda era toda amor.
Fabiano Brito

Travessia

Guardei esse poema desde tempos passados
Como um fruto foi flor
Como borboleta foi casulo
Como mar foi rio
Atravessou os dias de minha vida
E eu maduro agora
E maturado o fruto poema
E mar o rio poema
E borboleta o poema casulo
Entrego nas conchas de tuas mãos
Esse poema que é feito de todo amor que guardei.
Fabiano Brito

Parto e nem sei porque

Parto assim sem saber porque
Se te levo aqui dentro
Se continuas aqui junto a mim.
Parto e nem sei porque
Talvez eu tenha ficado
Meio pedra, meio gelo
Talvez eu tenha perdido o jeito de ser feliz.
Parto e nem sei porque
Se mais seguro é o teu porto
Abraçar o teu corpo,
Nem sei porque insisto em voltar ao mar
Parto e nem sei porque
Se lá fora cai uma tempestade
E aqui teu peito é abrigo
Nem sei porque teimo em partir
Se você é fogo que aquece
Se teu corpo é o pão do meu gozo
Parto e nem sei porque...
Fabiano Brito

Desanimo

Quando lá fora a primavera se estender nos campos
Talvez meus olhos cansados
Pelo cinza deste inverno frio
Encontrem uma senda de luz.
Que dentro de mim tudo é tempestade
E o chumbo dos dias pesam sobre os meus ombros.
Na parede a vida vai passando em um relógio que come as horas.
Que dentro de mim tudo é agonia e medo
Desse novo tempo que se abre a minha frente
Envelheço sem decifrar os enigmas da vida
Sonho menor, planto esperanças pequenas
Que dentro de mim tudo é magoa e dor
E tombo ferido dos golpes que me foram dados
E sangro pelas chagas em minha carne.
Quando lá fora a primavera se espalhar pelos campos
Talvez aqui dentro meu coração encontre paz.
Fabiano Brito

Cansaço

As vezes até viver cansa
E morremos no sono
Onde vivemos uma dimensão antes insondável
Cheia de sonhos e longe de todos os pesos cotidianos
Pairamos leves, serenos
Dentro desse pequeno cosmo
Estamos livres do peso do nosso corpo
Planamos como anjos
Tocando estrelas e voamos sobre as montanhas mais altas
Livres sem as correntes das coisas materiais,
Puros, nus, salvos, santificados
Somos os impolutos
Imagem e semelhança de Deus.
Concedei-nos Senhor
O mundo imaterial dos sonhos
E livrai-nos dos males da vida.
Fabiano Brito

Olhares

Que faço agora desse teu olhar no meu,
Dessa vontade de você?
Talvez você venha de um planeta distante
Ou sempre esteve aqui bem perto
Esperando o tempo ser de nós dois.
Que faço agora desse teu olhar no meu
Se cada passo meu é vontade de te encontrar.
E teu riso mora na retina do meu olhar?
Que faço agora se todo eu
Sou encanto dos encantos teus?
Fabiano Brito

Vésper

Da janela via o céu com seu canteiro de estrelas
Perdida em alguma lugar no meio do infinito
Mora no firmamento
A pequena vésper que um dia te dei.
E dentro em segredo
Guarda nossa historia.
Fabiano Brito

Culpa

A culpa sempre foi
Desse coração bobo aqui no meu peito
Que se encanta fácil demais
Que se apega depressa
Que se entrega sem medida
E no compasso do tempo
Vai perdendo o passo
Batendo em descompasso.
Fabiano Brito

Contrários

Talvez eu vá me arrepender amargamente depois,
Amanhã quando a tempestade passar
Sei que você vai ter partido
E que de nada vai adiantar chamar teu nome.
Parto, separo, divido.
Linha do Equador
Norte e Sul
Os ponteiros do relógio
Vão empurrando o tempo
Caminhos opostos
Você é Leste
Eu sou Oeste
É quase certo que depois vou me pegar
Perguntando "Porque?"
Se estava tudo certo
Com você aqui perto
Talvez seja porque nunca fui esperto
Talvez porque eu ame solidão de um deserto.
Verdade é que nem sei dizer
Onde vou ou o que pretendo fazer
Verdade
É que vou me arrepender amargamente depois.
Fabiano Brito

Enigma

Talvez o segredo de toda minha vida
É que eu nunca tenha encontrado a mim mesmo.
Talvez todo esse tempo dos meus anos
Eu tenha ficado a margem de mim.
Não achei a chave que me abre para o mundo
Muito menos desvendei o segredo de minha felicidade.
Sempre fui estranho comigo mesmo
Sempre me achei, diante do espelho
Algo inacabado,
Há quem sempre faltam partes.
Um quebra-cabeças que perdeu peças
E não consegue se montar inteiramente.
Quando tudo parece paz,
Tenho a incrível capacidade de fazer tormentas,
Revirar a vida, trocar o disco,
Mesmo quando os alicerces estavam fincados
E a musica que tocava era perfeita.
Nunca encontrei as medidas certas de minha receita,
Ou paro antes do tempo certo,
Ou passo do ponto.
Sempre me faltou a linha meridiana
O fiel da balança.
Tantas vezes abandonei portos seguros
Por um mar em tempestade,
Em outras toquei o fogo, mesmo sabendo que queima.
Sou um enigma, que nem eu mesmo decifro.
Fabiano Brito